O juiz Marcel Laguna Duque Estrada, da 36ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, acatou o pedido do Ministério Público e decidiu arquivar o processo do suposto racismo que o meia Ramírez, do Bahia, teria cometido contra Gerson, do Flamengo, no ano passado.
O pedido de arquivamento foi feito pelo promotor de Justiça do Ministério Público do Rio, Alexandre Themístocles, após análise das provas produzidas no inquérito.
Um outro processo sobre o caso já havia sido arquivado na esfera esportiva pelo STJD. Gerson não compareceu a audiência em que seria ouvido. Além dele, os jogadores Bruno Henrique e Natan, intimados como testemunhas, também não faltaram.
Já o meia Ramírez, os árbitros da partida e o técnico Mano Menezes, que na época comandava o Bahia, foram ouvidos. O colombiano negou que teria chamado Gerson de “negro” durante a partida. Câmeras que faziam a transmissão do jogo e a perícia técnica que fez a leitura labial do suposto momento, também não comprovaram a injúria.
“O crime de racismo é transeunte, ou seja, não deixa vestígios. Por isso, a palavra do ofendido é de grande relevância. Entretanto, no caso em tela, a afirmação do jogador Gerson é completamente dissociada do conjunto probatório. A lei processual brasileira adota o sistema da persuasão racional, consagrado no artigo 155 do Código de Processo Penal, que afasta qualquer hierarquia preestabelecida entre os meios de prova. Cuidadosa análise conjunta de todas as provas produzidas em sede policial impõe a conclusão de que não restou demonstrada a prática do crime”, diz trecho da decisão do MP.
Em processo de recuperação de uma lesão no joelho, o meia Ramírez está na colômbia, onde passou por cirurgia e tem realizado o tratamento. A expectativa é de que ele volte aos gramados no Campeonato Brasileiro.
Entenda o caso
Durante a partida entre Bahia e Flamengo, vencida pelo time carioca por 4×3, em dezembro do ano passado, no Maracanã, Gerson acusou o colombiano Ramírez de ter falado “cala boca, negro!”.
No momento do suposto ocorrido, houve uma grande discussão no campo, que resultou também em acusação na esfera criminal, investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.
“O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: “Cala a boca, negro”. Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito”, acusou Gerson em entrevista pós-jogo.
“Em nenhum fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. Acontece que quando fizemos o segundo gol botamos a bola no meio do campo para sair rapidamente e o Bruno Henrique finge e eu arranco a correr e eu digo a Bruno que” jogue rápido, por favor”, “vamos irmão, jogar sério”. Aí ele joga a bola para trás e Gerson, não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei “joga rápido, irmão”, se defendeu Ramírez.
Ramírez chegou a ser afastado das atividades pelo Bahia, enquanto uma apuração interna foi realizada pelo clube. na leitura labial feita por especialistas contratados pelo tricolor, foi constatado que o jogador não usou a palavra “negro” durante os diálogos. Sem a comprovação de que o colombiano havia cometido a injúria, Ramírez foi reintegrado ao elenco.